12 de dezembro de 2011

Tradição do movimento escoteiro permanece viva em Niterói - Maria Pérola...

“Prometo pela minha honra, fazer o melhor possível para: cumprir meus deveres para com Deus e minha pátria; ajudar o próximo em toda e qualquer ocasião; e obedecer à Lei Escoteira.” O lema criado pelo inglês Baden Powell no início do século passado mantém em alerta gerações de escoteiros em Niterói, não importa se aos 8 ou aos 80 anos. Considerada uma das pioneiras na divulgação do movimento no país, a cidade tem hoje oito grupos de escoteiros. Somam-se a eles dezenas de veteranos. Alguns, como os chefes Jarbas Pinto Ribeiro, de 93 anos, e Maria Pérola Sodré, de 89, mantêm-se ativos. Outros, mesmo sem participar dos encontros semanais, levam à risca o lema: uma vez escoteiro, sempre escoteiro.

Mesmo em tempos de redes sociais virtuais, games e inovações tecnológicas, os tradicionais uniformes azuis, cheios de insígnias, continuam atraindo jovens a partir dos 7 anos. No Brasil, chegam a 65 mil, sendo 700 em Niterói e São Gonçalo. Os acampamentos e os jogos de aventura são apenas parte das atividades desenvolvidas. O escotismo é, sobretudo, um estilo de vida que preza a disciplina, a cidadania e a ajuda ao próximo. Talvez por isso permaneça tão vivo entre seus participantes.

Veteranos resgatam histórias do escotismo, que ganha força entre os mais novos

O aperto de mãos esquerdas com dedos mindinhos cruzados — cumprimento típico escoteiro — era a senha repetida na chegada de cada novo membro ao primeiro encontro de veteranos escotistas de Niterói. A reunião, realizada na primeira semana de dezembro num restaurante em São Francisco, promoveu o resgate da memória do movimento na cidade .— Nosso objetivo, além de rever velhos amigos, é resgatar histórias de uma época de ouro de nossas vidas — conta Guido Pfeffer, de 69 anos, que chefiou o já extinto grupo Leões do Mar entre os anos 50 e 60 .

Cheios de histórias para contar, os veteranos relembram aventuras vividas nos tempos em que para ir de São Francisco até a Região Oceânica era preciso organizar uma expedição.

— Nós fazíamos trilhas até a Praia de Camboinhas, que, na época, ainda se chamava Itaipu — lembra Pfeffer, que participou de expedição até o local durante o encalhe do navio cujo nome acabou batizando a praia.

O farmacêutico Márcio Lago, de 59 anos, que também integrava o Leões do Mar, lembra as caçadas a rãs em São Francisco e Charitas.

— Lembro que aprendemos a caçar e limpar rãs. Vendíamos a carne. Existiam tantas rãs na região, que o ônibus que nos transportava até Jurujuba era chamado de mata sapo.

Mais interesse pelo movimento

Episódios marcantes da história da cidade, como os desfiles cívicos na Avenida Amaral Peixoto e o incêndio do Gran Circus Norte-Americano, em 1961, quando os escoteiros atuaram de forma decisiva no auxílio às vítimas não foram esquecidos.

— Ajudamos as vítimas internadas no Hospital Antonio Pedro. Também arrecadamos suprimentos e cobertores. A chefe Maria Pérola só saiu do hospital quando o último paciente teve alta — lembra Luiz Chehab, de 68 anos, que atualmente integra o grupo Rei de Salém, do Fonseca.

Mesmo ausentes no encontro, os veteranos mais experientes de Niterói foram lembrados: Jarbas Ribeiro, de 96 anos, o escoteiro mais idoso em atividade no Brasil, do grupo Benevenuto Cellini, de Jurujuba; e Maria Pérola Sodré, de 89, do grupo Gaviões do Mar, da Boa Viagem.

— Eles são um exemplo para as novas gerações — diz André Torricelli, de 34 anos, do grupo Gaviões do Mar, um dos mais jovens no encontro de veteranos, que deve se tornar semestral em 2012.

Nascida numa família escoteira — o pai, a mãe e os sete irmãos foram pioneiros no escotismo em Niterói, — Maria Pérola vê com satisfação o resgate das tradições do movimento.

— Esse resgate de valores é importante para os mais jovens. Ser escoteiro e fazer sempre o seu melhor. Fico feliz de saber que o movimento se renova.

E a presença de jovens é a prova de que, aos 104 anos, o escotismo não saiu de moda.

— Houve um enfraquecimento do escotismo após a década de 80, mas há cinco anos observamos uma retomada do interesse pelo movimento — afirma o diretor-presidente do Grupo Escoteiro (GE) Professor João Brazil, Luiz Carlos Neves Monteiro. — A sociedade está buscando atividades e valores que sempre estiveram presentes no escotismo.

Apesar disso, ainda há preconceitos a serem superados. Orgulho para os escoteiros, o uniforme é muitas vezes motivo de chacota fora dos encontros.

— O pessoal zoa direto, mas eu não ligo. Gosto muito de ser escoteiro. Aqui aprendi a ter respeito pelos outros e a ser “safo” — diz Bernardo Rodrigues Rosa de Carvalho, de 15 anos, do 49 GE Professor João Brazil.

Como ele, outros jovens levam muito a sério a tradição secular.

— O escotismo não é um clube. Quando a criança ou o jovem entra para o movimento, assume o compromisso de participar dos encontros. Para o método dar certo, eles têm que frequentar e participar das atividades propostas — explica o presidente do 8 Grupo Escoteiro (GE) São Francisco de Assis, Gelsom Rozentino de Almeida.

No escotismo, diversão e educação não estão dissociadas, pelo contrário, elas se complementam e formam a base do método. As crianças também aprendem a ter responsabilidades. A liderança é incentivada nas patrulhas — subdivisões dos grupos. Cada uma com um monitor responsável. Não é à toa que o movimento é reconhecido pela Unesco como o modelo de educação não formal de maior êxito no mundo.

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