As "Revoltas dos Escoteiros"
Não haviam se passado duas semanas da posse do novo Presidente, e um movimento sedicioso ocorria dentro da Aeronáutica, liderado pelo major-aviador Haroldo Coimbra Veloso e pelo capitão-aviador José Chaves Lameirão. Pela precipitação com que foi deflagrada a ação, e pelo amadorismo com que ela se desenvolveu, houve quem a comparasse a uma "revolta de escoteiros", uma injustiça cometida contra o barão de Baden-Powell e seus juvenis seguidores, que sempre primaram pelo método e pela organização.
As trapalhadas começam já pelo dia escolhido para o levante: um sábado de Carnaval, 11 de fevereiro de 1956. Na hora aprazada, os dois comandantes se perderam um do outro vindo a se reunir somente horas depois. Em seu primeiro alvo, o Campo dos Afonsos, os contatos falharam e, não havendo adesão da guarda, a praça teve de ser tomada à força e o avião de caça, pilotado por eles mesmos, levantou vôo sem autorização da torre de comando, provocando um alerta geral que prejudicou as etapas seguintes.
Fazendo uma primeira escala na base aérea do Cachimbo (Planalto Central), os revoltosos seguiram depois para Jacareacanga, às margens do rio Tapajós, a sudoeste do Pará e a 700 quilômetros de Altamira, quase já na divisa com o Estado do Amazonas. Essa escolha não era casual. O major Veloso havia participado da construção da base de Jacareacanga tornando-se conhecido dos índios e caboclos ali residentes, sobre os quais tinha forte ascendência. A estes foram distribuídas armas e munições para garantir a praça durante algum tempo.
Não tardou que o governo mandasse tropas, em avião pilotado pelo major Paulo Vitor da Silva e pelo tenente Carlos César Petit. O primeiro aderiu à revolta e o segundo foi aprisionado, juntamente com as tropas legalistas.
Voando em seguida em direção à foz do rio Tapajós, na confluência deste com o Rio Amazonas, os oficiais rebeldes se apossaram de Santarém, onde repórteres de rádios e jornais haviam se instalado para acompanhar o movimento.
Fracassado o contra-ataque pelo ar, o governo manda, então, o navio "Presidente Vargas" com novas forças, para atacar por terra.
Daí por diante, tudo o mais deu errado para os românticos revolucionários. As adesões de outras bases não aconteceram e, menos ainda, tiveram apoio da Marinha e do Exército. Em Jacareacanga, os prisioneiros eram um peso a mais, pois tinham de ser vigiados e alimentados. Isolados em Santarém, os rebeldes confundiram um vapor de carreira com o navio que transportava as tropas legalistas e, temerosos, recuaram até o povoado de São Luís do Tapajós, onde, dias depois, passaram a ser caçados pelos legalistas.
O comandante, avisado a tempo, conseguiu escapar, refugiando-se na mata, mas acabou sendo denunciado por um caboclo, já cançado de tanta aventura. Então uma patrulha se dirigiu local indicado e o major Haroldo Veloso, "surpreendido em uma casa, sentado em uma cadeira de balanço, não ofereceu resistência."
E os demais ? O major Paulo Vitor da Silva e o capitão Lameirão conseguiram reparar as avarias do avião de que haviam se apossado e levantaram vôo em direção a Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, onde pediram asilo político.
Em 29 de fevereiro de 1956, dezoito dias após aquele fatídico sábado de Carnaval, terminou o levante, com a frase conciliatória de JK: "Vamos virar a página, passar uma esponja em todos os acontecimentos e começar vida nova, porque o país deseja paz para trabalhar."
Ato contínuo, enviou ao Congresso Nacional uma mensagem, transformada em projeto de lei que, depois de aprovado e sancionado, deu anistia plena não só aos revoltosos de Jacareacanga, mas também aos envolvidos nos acontecimentos de 1955, quando pretendiam impedir a posse do Presidente eleito.
Esse ato foi mal interpretado por alguns e, em 1959 ocorreu a Segunda "revolta de escoteiros", desta vez em Aragarças, Estado de Goiás, às margens do rio Araguaia, sob o comando do tenente-coronel da Aeronáutica João Paulo Moreira Burnier. Igualmente, não houve adesão e os revoltosos foram para Buenos Aires, onde pediram asilo. Utilizando-se da lei anteriormente sancionada, JK anistiou a este novo grupo, apostando sempre na pacificação nacional.
Fonte: Blog da Pitoresco.
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