Reflexão de um Velho Lobo, e amigo, Ch. Elmer Pessoa do 55° GE Morvan-Santos/SP.
Qual o cidadão, militante do Movimento Escoteiro, que nunca foi perguntado sobre o salário que recebe para exercer a função de Chefe ou Dirigente Escoteiro?
Quem nunca foi perguntado onde e como conseguiu esse emprego permanente, essa “mamata” que só trabalha nos fins de semana, pedindo que o indicasse, mesmo para fazer um “bico” nos fins de semana, acompanhando nas atividades externas?
Quem nunca reparou a expressão de espanto e até mesmo de descrédito quando você diz que é voluntário e, como tal, trabalha de graça?
Cuidar dos filhos dos outros, levarem para acampamentos, excursões, viagens, passeios, reuniões todos os sábados, aturar má criação de crianças, a rebeldia dos jovens e muitas vezes, a indiferença dos pais? Dormir no mato, no chão duro, às vezes em baixo de chuva e por vezes mal alimentado, levando picadas de insetos e quem sabe, de outros animais inerentes da mata. Correr riscos de acidentes, tombos, cortes, queimaduras...
Não, não é verdade! De graça, nunca! Ninguém faria isso tudo de graça! Não querem é revelar o empregador... Medo da concorrência? Talvez algum setor da municipalidade, Secretaria da Cultura, Esportes ou algo semelhante... Ou até o setor de conservacionismo, agora tão em moda! Talvez o Exército!? Nada disso?... Ah! Já sei, exclamam os incrédulos! No mínimo, vocês descontam como despesas no imposto de renda. Afirmação esta que já ouvi por mais de uma vez. Voluntário é coisa de hospital! Vai lá quando é possível, trabalha duas horas por semana e vem logo embora...
Isto ocorre porque é incomum pessoas que se dedicam ao voluntariado nos dias de hoje. A cada ano a vida exige mais do individuo, subtraindo o tempo que poderia ser dedicado ao próximo, seja a entidade que for. Sem contar que não temos a tradição do voluntariado, como existe em outros países e, uma grande parte dos nossos voluntários desconhece que ser voluntário tem direitos, porem, tem deveres e obrigações.
Quando falamos que ainda por cima temos que fazer vários cursos de capacitação e treinamento, comprar literatura, material didático, material de acampamento individual, bússola, GPS, e mais uma série de equipamentos, e que a maioria das viagens são feitas por nossa conta e que, não raro, ajudamos alguns Escoteiros que estão com maiores dificuldades financeiras, somos rotulados de malucos!
Aliás, o desconhecimento de algumas pessoas é tão grande que, às vezes somos chamados de loucos ou de heróis, por assumir tal responsabilidade. Porem, não sabe que não somos nem uma coisa, nem outra! Somos apenas cidadãos responsáveis.
Varias pessoas estranhas ao Movimento já repetiram as mesmas perguntas e, de certa forma, não deixam de ter razão. Qualquer um que desconheça os princípios do Escotismo, certamente pensará que estamos recebendo salário para chefiar. Não pode acreditar que tantos adultos dediquem o melhor de seus esforços na condução de jovens que nem sequer os conheciam antes de entrarem para o Escotismo.
Efetivamente que estamos ganhando, senão não estaríamos nos dedicando tanto... Estamos ganhando e muito bem! O que recebemos pelo nosso trabalho, não tem preço e ainda por cima, é isento do Imposto de Renda!
Estamos ganhando amigos leais, verdadeiros irmãos de Promessa. Ganhando a sensação maravilhosa do “dever cumprido”! Ganhando a satisfação de fazer a nossa parte!
Ganhamos o carinho, o respeito e a afeição dessas crianças e jovens que, em alguns casos, somos a última esperança de uma vida melhor. Sem o desejar, às vezes, somos o modelo do pai que não tiveram e alguém para se espelhar... Isso, não tem preço!
Nenhuma dessas pessoas se põe a analisar as dificuldades que assume um Escotista, tomando sobre seus ombros a responsabilidade de trabalhar com crianças e jovens. Qualquer pessoa, sem espírito altruísta, irá colocar na balança de seu entendimento as vantagens e desvantagens que o Escotismo oferece e, muito provável, decidirá deixá-lo de lado ao perceber o quanto difícil é trabalhar o caráter.
Quando eu ainda era Escoteiro meu chefe costumava dizer e nunca mais esqueci suas sábias palavras: “Ser Chefe Escoteiro é quase um sacerdócio!”.
Então, chegamos à conclusão que ganhamos muito bem para ser Chefe Escoteiro. Um salário bastante alto que, porém, nada se compra com ele!
Elmer S. Pessoa – DCIM – dezembro 1986.
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